sábado, 17 de novembro de 2012

Quando o casamento se transforma num “anexo” da família de origem - Pais e Sogros: um problema ou uma solução para os casais?




O que fazer quando o(a) companheiro(a) não corresponde às expectativas dos pais? E quando a família de origem, de uma forma incessante, intromete-se nas decisões do casal? Como lidar com a sogra?

A formação de um casal implica a conjugação de três elementos: o eu, o tu e o nós, em que o eu e o tu correspondem aos valores, atitudes, necessidades, expectativas, comportamentos e características individuais, sendo que o nós refere-se ao projecto a dois, baseado numa negociação e partilha, movido por influências a que o “Eu e Tu” estão expostos pela comunidade e pela família. 

Assim, quando duas pessoas se juntam trazem uma bagagem determinada pela educação e pelos valores que foram transmitidos através da família, que podem ser divergentes para os dois elementos, podendo desencadear alguns obstáculos de entendimento na relação. 

Desta forma, a formação do casal obriga à construção de novas regras e formas de estar na relação. O casal tem que ter a capacidade de se distanciar do modelo que os pais lhes transmitiram e construir e definir o seu próprio, negociando formas de consenso entre os dois elementos, abdicando conjuntamente das convicções que foram construindo na relação com a sua família. 

Claro está, que quando se reúnem dois elementos oriundos de famílias com valores completamente opostos, poderá surgir alguma discórdia, bem como dificuldades de gerir essas diferenças. Se o casal não decidir criar um espaço só seu, onde respeitem o que é valorativo para cada um, sem ser necessário um corte completo com as suas famílias, a ruptura poderá estar iminente.

 É frequente encontrarmos indivíduos que, habituados a pertencerem a uma determinada família, optem pelos seus elementos e pelas suas opiniões em detrimento do companheiro(a) que escolheram, o que terá um impacto negativo no relacionamento e no cônjuge preterido. Este aspecto pode conduzir a um desinvestimento na relação, por sentirem que não têm força para combater e derrubar valores e padrões já tão fortalecidos. E, assim, desistem do entendimento, da concretização da felicidade junto deste(a) companheiro(a), sem no entanto abdicarem de a encontrar.

 As pessoas valorizam tanto os relacionamentos como forma de concretizar os seus ideais que reclamam mais intensamente a satisfação das suas necessidades e, por isso, quando sentem que aquela é uma fonte que secou, que jamais permitirá atingir aquilo que tanto aspiraram, desistem e procuram num outro lugar.

No entanto, não quer isto dizer que sempre que um casal se depare com dificuldades na relação com a família de origem esteja condenado ao fracasso. É necessário que o casal defina limites em relação à família de origem, para que esta seja “obrigada” a respeitar o espaço do casal e sua privacidade, não se intrometendo no processo de tomada de decisão, que compete apenas ao casal. Para este efeito, é necessário ultrapassar alguns receios, nomeadamente o de magoar os pais, bem como alterar formas de relacionamento. 

Por exemplo, se habitualmente um dos elementos do casal procurava sempre os pais para tomar decisões ou se partilhava todos os aspectos da sua vida, é necessário demonstrar que agora a relação necessita de mudar, sem que os pais se sintam ameaçados no seu papel. O novo elemento não tem que ser considerado uma ameaça ao bom entendimento entre pais e filhos, apenas é necessário negociar e reorganizar uma nova forma de estar, sendo fundamental a comunicação entre o casal para ultrapassar estas divergências, bem como entre pais e filhos, para que os pais percebam que a união familiar não implica necessariamente uma intromissão e presença constante no novo seio familiar.  

Para além disso, é necessário demonstrar à família de origem que a escolha do(a) parceiro(a) deve ser respeitada. 

Frequentemente, os pais idealizam o(a) companheiro(a) dos filhos e como nem sempre este(a) corresponde às suas fantasias, acabam por não o(a) aceitar de imediato, procurando “aperfeiçoar” o elemento às expectativas que tinham. 

Neste caso, podem emergir conflitos, sendo necessário que o casal se mantenha unido, enfrentando conjuntamente a situação, partilhando os seus receios e sentimentos. 

Quando o casal não consegue lidar com esta situação pode recorrer à terapia de casal ou familiar para que possam ser definidos os limites, fortalecendo o espaço do casal, facilitando a construção das suas regras de funcionamento e aprendendo a lidar com as reacções da família de origem.

Não se deve também esquecer que com início de uma nova relação sogras e noras, que são pessoas que nunca ou pouco conviveram, são convidadas a criar um laço familiar, independente da empatia, ou não, que possa haver entre ambas, o que nem sempre é tarefa fácil. 

No entanto, também é verdade que muitas famílias recebem o novo elemento facilmente, “adoptando-o”. É habitual ouvir-se dizer a parte dos sogros que ganharam um (a) “filho(a)”, mantendo os relacionamento respeitador e  afectivo com os mesmos. 

Para além disso, com o tempo de convivência, vai-se abrindo espaço para que os laços entre noras e sogras se fortaleçam, ou pelo contrário, se destruam, podendo ser um desafio permanente para o casal. 

Quando a relação entre o casal e a família e origem é bem gerida, pode representar uma fonte de apoio, nomeadamente no cuidar dos netos. 

Com a falta de tempo, que o casal enfrenta habitualmente, devido ao trabalho e a inúmeras tarefas que tem para cumprir, a disponibilidade dos avôs pode ser uma mais-valia. No entanto, pode surgir também neste aspecto alguma conflitualidade, quando entre o casal e os sogros há uma disputa na educação da criança. 

Neste caso, é importante evitar as discórdias, sendo que a decisão final é do casal, sendo necessário existir espaço para comunicarem acerca destes aspectos, para que possam usufruir dos aspectos positivos de uma relação saudável com a família de origem, encontrando nela um suporte e não tanto uma fonte de conflito, mantendo a premissa de que a participação excessiva da família de origem pode afectar o relacionamento conjugal.

    





1 comentário:

  1. Esse texto foi escrito justamente para ajudar pessoas que como eu tem passado por esse tipo de problema. Sou casada a 2 anos tenho um filho de 1 ano e 5 meses, e minha cunhada mora comigo pois veio de outra cidade para trabalhar, minha sogra vem passear todo fim de semana na minha casa, de mala e tudo pois vem de outra cidade. Mas ninguém percebe que eu não tenho um casamento jovem e saudável, que não temos nossa vida conjugal respeitada, não temos liberdade de viver nossa "familia". Além de ter intromissões nas decisões que eu e meu esposo tomamos, sempre por trás de mim elas fazem ele mudar de idéia. Isso me irrita, e eu não tenho conseguido resolver nem conversar sobre o assunto. Agora recentemente estou fazendo terapia com piscicologa, e espero que eu consiga resolver essa situação, pois tem gerado tristeza e brigas desnecessárias entre nós, devido essa situação eu quero sempre resolver, e jogo a culpa nele.

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